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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Abadia de Jumièges: em pé atraía as bênçãos de Deus.
Hoje em ruínas, quem reza por nós?

A neve acumulada sobre as ruínas da abadia fala do esfriamento na fé e do esquecimento de Deus
A neve acumulada sobre as ruínas da abadia
fala do esfriamento na fé e do esquecimento de Deus
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Enriquecido às portas de Paris pelas verdes águas de seu principal afluente oriundo do Leste, o rio Marne, o Sena serpenteia preguiçosamente a partir da capital francesa rumo ao mar, passando pela bela e vetusta capital da Normandia: Rouen, fundada no século II.

Nesse trecho final, suas imponentes falésias de calcário branco formam um verdadeiro paredão junto a sua margem direita, dando abrigo a inúmeras habitações ditas “trogloditas”, como as denominam os franceses modernos. Muitos ali fazem suas caves, depósitos, moradias, e até igrejas.

Normandia! Uma das mais belas e típicas regiões da França, com suas lindas choupanas de traves aparentes, cobertas de colmo (palha de trigo ou centeio).

Sua população risonha e amável, como era a normanda Santa Teresinha do Menino Jesus, nem parece reportar sua origem aos terríveis vikings vindos do Norte, especialmente da Noruega e da Dinamarca.

Entretanto, assim foi.

A França, como se sabe, provém da antiga Gália, dominada pelos romanos 50 anos antes de Cristo.

Mais tarde, os francos, oriundos da Germânia, estabeleceram-se ao norte da Lutécia romana para conquistar o coração do que seria mais tarde o seu reino.

A conversão de Clóvis, em 496, foi de algum modo para os francos o que a conversão de Constantino representara para o Império Romano, em 313.



Cristianizada a partir do século II, Rouen e sua região foram ocupadas por Clóvis em 497. Os primeiros mosteiros aí fundados datam do século VI.

Na metade do século VII, durante a época merovíngia, o rei Dagoberto teve como chanceler Ouen, ligado por estreita amizade a Filisberto e Wandrille.

A vida dos monges girava em torno da oração para Deus se manifestar propício aos homens
A vida dos monges girava em torno da oração
para Deus se manifestar propício aos homens
Os três amigos foram canonizados pela Igreja, numa época em que se levava a sério a santidade...

Santo Ouen (pronuncia-se “uã”) tornou-se bispo de Rouen e fundou nessa cidade a célebre abadia que ainda hoje tem seu nome.

Wandrille fundou a abadia de Fontenelle em 649, hoje chamada de São Wadrille, também junto ao Sena.

Pouco depois, em 654, São Filisberto erigiu a abadia de Jumièges, situada entre as duas anteriores, à margem direita do terceiro meandro do Sena depois de Rouen, a pouco mais de 20 quilómetros dessa capital.

Após a morte do fundador, em 685, a abadia foi dizimada por uma epidemia que teria tirado a vida de mais de 400 monges.

Não obstante, como Fontenelle, Jumièges teve um rápido desenvolvimento. Um documento registra 114 monges em 826: é o Livre de confraternité, da abadia de Reichenau, à qual a abadia de Jumièges estava vinculada por uma comunidade de orações.

Outras fontes, menos confiáveis, falam em 900 monges no século anterior.

Favorecida por doações de reis e grandes senhores, a abadia de Jumièges tornou-se conhecida pela sua generosidade em relação aos necessitados e aos peregrinos.

Mas sua história ainda estava apenas no começo. Com efeito, desde o século II as costas do Canal da Mancha vinham sendo regularmente invadidas pelos audazes guerreiros vikings, oriundos da Escandinávia.

Em princípios do século IX, os homens vindos do Norte — daí o nome de normandos — voltaram para ficar. Em 841, penetrando pelo vale do Sena, incendiaram Rouen e Jumièges, e chegaram a sitiar Paris (885).

A paz foi obtida com um tratado através do qual o rei dos francos conferia ao chefe viking Rollon o título de duque da Normandia.

Foto aérea das ruínas da grande abadia
Foto aérea das ruínas da grande abadia
O rei Carlos, o Simples, cedeu-lhes terras em 911 e 924. O rei Raul cedeu outro tanto em 933. E os normandos, pacificados, permitiram a volta dos monges aos seus mosteiros.

Quando o segundo duque da Normandia, Guilherme Espada Longa, em uma saída de caça deparou com as ruínas de Jumièges, decidiu mandar reconstruir a abadia.

E pediu a sua irmã, casada com o conde de Poitiers, que obtivesse monges para habitá-la. Com o apoio do duque, os monges puderam assim reconstituir Jumièges. Isto ocorreu em 940, ou pouco antes.

Com o assassinato do duque Guilherme em 942, a Normandia sofreu novas convulsões.

O governador de Rouen, Raul Torta, mandou então destruir a abadia para utilizar suas pedras no reparo de uma fortaleza.

Um novo alento veio, entretanto, por volta do ano mil, quando o duque Ricardo II mandou vir da abadia de Cluny o monge Guilherme de Volpiano, cujo discípulo, Thierry, tornou-se abade de Jumièges, com autoridade também sobre as abadias de Bernay e do Monte St-Michel.

Ele decidiu mandar reconstruir e restaurar a igreja abacial de Nossa Senhora. Mas a obra só foi concluída por seu sucessor, Roberto Champart, em 1040.


Continua no próximo post: Abadia de Jumièges: onde a oração dos monges atraia as bênção de Deus para perdoar a humanidade pecadora


(Autor: Gabriel J. Wilson, in “Catolicismo”, junho de 2016).

Abadia de Jumièges: as mais belas ruínas da França (Victor Hugo)





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